Graduação

Prevista na Lei 8488 publicada no Diário Oficial de 17/12/1964, a Faculdade de Arquitetura nunca chegou a funcionar junto à Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos. Essa antiga aspiração começaria a tomar forma somente em 1970, atrelada ao recém-criado Departamento de Arquitetura e Planejamento da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC). A primeira proposta para a constituição do Curso de Arquitetura e Urbanismo (CAU) da EESC data de 1975, sendo aprovado pelo Conselho Universitário em 29/12/1975.

Entretanto, por razões internas da Universidade, o curso só foi efetivamente implementado 1985, ano em que se realizou o primeiro vestibular. Começa contando com docentes em sua maioria mestres ou mestrandos e 30 alunos por turma. Sua proposta se inseria no debate arquitetônico, urbanístico e cultural da época. Com cinco anos de duração, estruturava-se em quatro áreas de conhecimento: Tecnologia,  Representação e Linguagem, Teoria e História e Projeto. Além do Departamento de Arquitetura e Planejamento, contribuiam outras unidades do Campus de São Carlos: a  Escola de Engenharia de São Carlos, o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação e o Instituto de Física de São Carlos.

Em 1996 o CAU passa por uma reestruturação curricular que, embora não tenha alterado a proposta de concentração na arquitetura das edificações e da cidade (antes que no planejamento ou no desenho industrial, privilegiados em outros cursos), promoveu consideráveis alterações na carga horária didática e na abordagem das quatro áreas de conhecimento. Outra importante mudança foi a ampliação do número de vagas, de 30 para 45 ingressantes por ano, aprovada pelo Conselho de Graduação da USP em 2009, e implementada a partir de 2010. Neste momento, houve a revisão de alguns dos procedimentos metodológicos do Curso, mas não a alteração dos pressupostos e objetivos do projeto didático e político-pedagógico de 1996.

Em 14 de dezembro de 2010  é criado o Instituto de Arquitetura e  Urbanismo  (IAU-USP), por decisão unânime do Conselho Universitário (Resolução Nº 5903, de 23.12.2010, D.O.E. 24.12.2010). Isso representou o reconhecimento das atividades de ensino, pesquisa, cultura e extensão,  desenvolvidas pelo antigo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC): 48 anos de atividades na Pós-Graduação e 34 anos de implantação do Curso de Arquitetura e Urbanismo. A partir desta data, o CAU passa a ser de inteira responsabilidade do IAU.

Em 2017, o CAU abriu ao SISU 30% de suas vagas, em 2019, atingiu a cota de 40% de alunos egressos de escolas públicas. Atualmente, como o CAU conta com 32% de seus alunos de em situação de maior vulnerabilidade socioeconômica, foram tomadas diversas medidas para a viabilização de sua permanência.

O Processo de Reestruturação do CAU-IAU
Em 2010, com a criação do IAU, a Comissão de Graduação passa a assumir a responsabilidade pelo CAU. Ao final de 2012, começa o “Processo de Renovação do Curso”, que dá origem ao presente Projeto Político Pedagógico. As discussões têm início no ano de 2013, voltando-se primeiramente à definição do perfil do aluno egresso e à discussão sobre as lacunas no ensino do curso, sintetizadas em 2014 em cinco eixos temáticos:

1. Processos de Urbanização: teoria, história e intervenção;
2. Território e a Questão Ambiental: as múltiplas dimensões da sustentabilidade;
3. Construção do Edifício e da Cidade: materiais, técnicas e tecnologia;
4. Questão do Patrimônio: concepções, políticas e intervenções;
5. Arquitetura, Cultura Urbana e Política.

A discussão desdobra-se em 2015 com o 1º. Seminário Geral do Processo de Renovação e a criação de um Grupo de Trabalho, vinculado à Comissão de Graduação. O debate concentra-se na definição da identidade do curso e nas possibilidades abertas por outros desenhos de estrutura curricular e de espaços e de tempos pedagógicos distintos. Como resultado, em setembro de 2017, no 3º. Seminário Geral chegou-se a uma formulação da identidade do CAU, refinada no 5º. Seminário de fevereiro 2018:

“Formar um profissional capaz de lidar com as questões contemporâneas relacionadas à arquitetura, ao urbanismo e aos processos de urbanização, por meio de uma abordagem crítica e propositiva dos processos produtivos (que integram cultura, sociedade e técnica) em suas múltiplas escalas, o edifício, a cidade, a paisagem e o território”.

Simultaneamente, o GT elaborou uma proposta visando a rearticulação do curso em dois ciclos de ensino/aprendizagem, um básico nos três primeiros anos, e prevendo novos formatos para as disciplinas do segundo ciclo, transdisciplinares, que envolveriam a contribuição e participação de conhecimentos e professores de distintas áreas.

Apesar do intenso interesse que esta proposta despertou, não se chegou a um consenso quanto à sua fundamentação e seu formato definitivo.  Como consequência, deliberou-se por continuar o processo definindo um desenho básico da coordenação horizontal e vertical do curso ano a ano, cabendo às áreas de conhecimento definirem o recorte de suas disciplinas, ainda dentro da proposta de dois ciclos.

Uma nova dinâmica estabelece-se a partir de maio de 2018.  Após análise do material reunido no 6º. Seminário Geral, essencialmente um encontro entre as áreas de conhecimento, o GT Renovação elabora uma primeira síntese das contribuições das áreas, exposta em reuniões setoriais em setembro do mesmo ano. Após novas reuniões das áreas, o material produzido e sistematizado pelo GT Renovação é objeto de deliberação no 7º. Seminário Geral, realizado em dezembro de 2018, o qual acorda uma concepção geral de curso estruturada em sequências de disciplinas ao longo de cinco anos e um novo desenho e inserção das disciplinas optativas.

Pautada por essa concepção, uma nova grade curricular é apresentada e discutida em abril de 2019, retornando às áreas de conhecimento para seu refinamento. Em sete de agosto de 2019 foi realizado o 8º. Seminário Geral do Processo de Renovação, na qual foi apresentado, e aprovado pela maioria dos docentes, a proposta elaborada pelo GT e pela Comissão de Graduação e da qual este documento é a síntese final. Em 17 de setembro ele foi aprovado pela Comissão de Graduação que o encaminhou para sua aprovação final pela Congregação, na mesma data.

Enquanto Projeto Político-Pedagógico sintetiza as questões levantadas acima, com o objetivo de estabelecer diretrizes claras e consistentes, que garantissem o lugar das diversas vozes, posturas e questões levantadas e expressassem todo o processo, resguardando a experiência acumulada ao longo de mais de 34 anos de existência do CAU. Em essência, a partir do extenso debate ocorrido sobre os caminhos abertos a sua renovação, a noção da identidade do curso foi central, entendida como um fenômeno dinâmico e em constante transformação. Além de preencher as lacunas observadas na formação do aluno/a, parte considerável do esforço foi repensar muitos procedimentos e práticas vigentes, procurando incorporá-las de modo a não apenas complementar a experiência pedagógica acumulada, mas também criar instâncias que abrissem novas possibilidades, o que redundou não apenas na reestruturação dos conteúdos ministrados ou na proposição de outros, mas, levou a repensar a pertinência dos formatos, tempos e dos espaços didáticos existentes. Em decorrência disso, tomou-se o cuidado de estabelecer dentro do CAU espaços especialmente voltados a experimentações, que garantam a continuidade de práticas didáticas inovadoras, como a permanente incorporação de questões emergentes. Assim, temos o desenho de uma nova diretriz de inserção das optativas dentro do curso, do aprofundamento das atividades de extensão e da incorporação das atividades acadêmicas complementares.
Podemos apontar, entre os diversos avanços, a maior ênfase em questões contemporâneas – uma discussão mais aprimorada de sua especificidade e das relações que estabelece com o Moderno, na teoria e na prática; a ampliação do quadro conceitual das discussões sobre a arquitetura e urbanismo no Brasil, na medida em que o novo enfoque passa por sua inclusão no contexto mais amplo da América Latina; um maior enfoque na reflexão e na prática sobre a cidade, o urbanismo e o planejamento, com diferentes aproximações escalares, aprofundando a discussão sobre suas relações com a arquitetura, a cultura e a sociedade, dando continuidade à estreita unidade existente no CAU-IAU entre proposição e reflexão nos projetos arquitetônico e urbano; a atualização da abordagem da tecnologia do espaço construído, aprofundando as questões ambientais.

Desse modo, o PPP busca uma visão mais consistente sobre a contemporaneidade e suas formas culturais, enfatiza a presença das novas tecnologias neste contexto, sem esquecer os vínculos com a prática arquitetônica, a produção da cidade e a sociedade.

Os pressupostos da prática do Trabalho de Graduação Integrado (TGI) permanecem, uma vez que estão em sintonia com os objetivos da proposta de renovação. Não obstante, é importante mencionar que uma das expectativas subjacentes a este PPP é o rebatimento, no TGI, da renovação dos conteúdos e das experiências didáticas propiciadas pelos novos espaços e formatos voltados a experimentações e questões emergentes.

O Processo de Renovação foi longo, mas fecundo, na medida em que envolveu o corpo docente (e parcelas significativas do discente) e mobilizou as áreas de conhecimento em torno da reflexão sobre o curso existente e suas possibilidades. O próximo objetivo é garantir a mesma qualidade de engajamento em sua implementação.