Apresentação

Os atuais Diálogos Franco-Lusófonos originaram-se dos Diálogos França-Brasil, surgidos como um desdobramento do “Programa Attilio (primeiro brasileiro diplomado na França, em 1930 – Atílio Corrêa Lima, no Instituto de Urbanismo da Paris): urbanismo, competências, territórios”. Programa esse criado em 2009, em conjunto entre a França e o Brasil, que teve como objetivo a partilha de experiências no campo da formação do urbanismo e do planejamento das cidades e territórios, através do estabelecimento de laços de intercâmbio e de produção acadêmica, bem como do incentivo à abordagem de realidades urbanas e urbanísticas distintas, segundo as instituições e contextos culturais.

Desde então os Diálogos França-Brasil se tornaram a principal forma de encontro regular e bianual entre pesquisadores franceses e brasileiros no campo do urbanismo e do planejamento urbano. Esses encontros representam a ocasião de estender os Diálogos para outros pesquisadores lusófonos e francófonos, além dos oriundos do Brasil e da França, por ocasião de reuniões orientadas pelo mesmo objetivo entre a ANPUR e a APERAU, ampliando para francófonos oriundos de outros países da Europa, de países da África e da América do Norte, além de lusófonos oriundos de países da África, Ásia, América Central e Caribe.

A proposta de ampliação dos Diálogos para as duas áreas culturais da francofonia e da lusofonia surgiu no encontro de Lille, em 2014, e foi reafirmada em junho-julho de 2016, quando da realização da quarta edição dos Diálogos, em Salvador-Bahia, e do Congresso Mundial das Escolas de Planejamento (World Planning Schools Congress, WPSC), no Rio de Janeiro, organizado pelo GPEAN (Global Planning Education Associations Network).

Através da utilização do francês e do português, na escala global na qual se inserem esses idiomas, buscou-se promover trocas científicas relativas aos desafios da cidade contemporânea, tanto no norte quando no sul.

Os pesquisadores franco-lusófonos da área do urbanismo e do planejamento urbano e regional afirmaram, assim, sua vontade comum de alimentar o debate sobre o futuro das cidades, tendo em vista os embates globais e locais, sejam eles de ordem climática, social, econômica e/ou cultural. Os países e territórios franco-lusófonos representam um amplo leque de realidades propícias a comparações, problematizações e trocas acadêmicas, a partir de perspectivas distintas.

Um dos princípios dos Diálogos foi justamente incentivar propostas de análise comparativa, que combinem autores de língua francesa com autores de língua portuguesa. Todas as comunicações trataram de associar, sempre que possível, abordagens comparativas ou permitir a análise conjunta de temas específicos de um ou mais países do mundo lusófono ou da esfera francófona.

Em 2018, os Diálogos transformaram-se em Diálogos Franco-Lusófonos com o objetivo de ampliar a rede de pesquisadores no campo da formação do urbanismo e do planejamento das cidades e territórios, através do estabelecimento de laços de intercâmbio e de produção acadêmica, bem como do incentivo à abordagem de realidades urbanas e urbanísticas distintas, segundo as instituições e contextos culturais.

Em 2011, no Rio de Janeiro, ocorreu uma Sessão Especial durante o XIV ENANPUR, com o título: Desafios do Urbanismo na França e no Brasil. Na ocasião, foi dada continuidade às discussões para a implementação do programa Attilio e realização de mesa redonda que se debruçou sobre as competências do fazer urbanístico, entendendo-se competência como a capacidade de utilizar de forma situada aptidões e conhecimentos. Nesse sentido, foram exploradas as similaridades e as diferenças, assim como o lugar institucional ocupado pelo urbanismo em cada um dos dois países, com o intuito de identificar preocupação comum daquilo que deveria ou poderia ser a formação do urbanista numa realidade urbana em transformação rápida. Participaram do debate nesta sessão: Ana Fernandes (FAU/UFBA), Maria Cristina Leme (FAU/USP), Gustavo Rocha-Peixoto (ANPARQ), Jean-Pierre Frey (IUP/UPEC), Jocelyne Dubois-Maurie (IUP/UPEC), Leila Christina Dias (ANPUR) e Nadia Somekh (FAU/UPMackenzie).

Em 2012, em São Paulo – Brasil, ocorreu o “II Diálogo França-Brasil: Construir a Metrópole Contemporânea”, na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Esse encontro foi estruturado em 5 sessões temáticas: Sessão 1 – Mobilidades: um novo direito às cidades/metrópoles; Sessão 2 – Novas metrópoles e grandes projetos urbanos: recortes territoriais e poder político; Sessão 3 – Controle social e gestão setorial/participativa ou metamorfoses do espaço público; Sessão 4 – Coabitar: relações de vizinhança e vida de bairro; bem como Sessão 5 – Arquitetura contemporânea e Patrimônio.

Em 2014, em Lille – França, ocorreu o “III Diálogo França-Brasil: Criatividade e inovação como processos solidários: viver o território e fazer a cidade diferentemente?”, na Universidade de Lille.    

Em 2016, em Salvador, ocorreu o “IV Diálogo França-Brasil: O direito à cidade na França e no Brasil: uma nova agenda urbana”, na Universidade Federal da Bahia. A conjuntura construída acerca das cidades e seus embates pareceu ser, a partir do conceito-chave de direito à cidade, uma ocasião fecunda para estimular entre os pesquisadores brasileiros e franceses a reflexão comum sobre os múltiplos processos urbanos em curso: democracia participativa, políticas do habitar, planejamento e desenvolvimento durável, instrumentos de regulação e modos de ação, projetos urbanos, espaços de memória e de criação, sistemas técnicos e de inovação, mobilidades e suas formas, processos formais, informais e solidários de produção e de consumo, modos de vida e territorialidades, poderes urbanos e democracia, redes de agentes e suas contradições e conflitos, movimentos de contestação e de insurgência. O direito à cidade é Um Pensamento que se torna mundo. Esse evento foi a ocasião de discutir a tradução dessa ideia do direito à cidade para a reorganização dos espaços construídos e as redefinições da urbanidade das populações e de suas condições de vida. Qual cidade está sendo construída? Quais novos laços se tecem e se constituem entre protagonistas em presença e territórios compartimentados? Que morfologias urbanas e sociais vêm sendo constituídas? Que novas relações se tecem entre lugares do cotidiano e o meio ambiente, entendido em sentido amplo? Que competências e matérias urbanísticas, técnicas e culturais são requeridas para que as formas de sociabilidade sejam equitativas e a urbanidade melhor partilhada? Quais são as liberdades da cidade hoje? A questão da atualização do direito à cidade no contexto do século XXI foi também colocada. Qual pode ser seu significado quando a cidade se generaliza e qual comunidade de destino e de “direito” existe hoje acerca dessa noção entre mundos urbanos tão distintos quanto os do Brasil e da França, à imagem do conjunto do planeta? A inserção do debate na pauta internacional incita a colocar as questões na escala planetária e os Diálogos constituem um espaço favorável para fazê-lo.

Em 2018, em Tours – França, ocorreu o “V Diálogo França-Brasil: Natureza e Cidade: olhares cruzados franco-lusófonos. Esse encontro teve como objetivo aprofundar o esforço de reflexão sobre a relação         espaço/sociedade/meio-ambiente já abordada por muitos pesquisadores, a partir de uma perspectiva interdisciplinar, internacional e comparativa. Esse encontro foi estruturado em 6 sessões temáticas: Session 1 – L’eau et les espaces verts dans la ville. Trame verte et bleue; Session 2 – La prise en compte des relations ville-nature dans l’aménagement de l’espace à toutes échelles; Session 3 – Nature urbaine, habitat, et mobilités; Session 4 – Nature urbaine cultivée vs nature délaissée; Session 5 – Développement urbain et préservation du patrimoine naturel et du paysage urbain; bem como Session 6 – Les espaces verts en ville : place, fonctions et politiques locales.

Na quinta edição, os Diálogos tiveram o apoio de duas imporantes instituições: a APERAU – Internationale, Association pour la Promotion de l’Enseignement et de la Recherche en Aménagement et Urbanisme e a ANPUR – Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional.